quinta-feira, 5 de abril de 2012

MaKarimes


Eu adoro cozinhar. É a minha terapia nas horas vagas, ociosas ou em momentos de tensão.

Se tenho um tempinho corro para contemplar minha despensa e ver no que posso transformar os meus ingredientes.

Em outras situações, quando a inspiração está a flor da pele, passo dias (às vezes meses) estudando receitas pela World Wide Web.

Quando finalmente me sinto segura com uma fórmula convoco meus Gourmands (familiares) e coloco a mão na massa.

Foi assim com os cookies, cupcakes, Pull-Apart breads e outros. Minha última tentativa foram os charmosos Macarons.

A internet não mente nem engana niguém. Quando bem pesquisados, a maioria dos assuntos ficam bem esclarecidos.

Bom, o oráculo havia me alertado para a dificuldade desse doce. Confesso que fiquei intimidada e demorei muito para tomar coragem de enfrentar esse desafio.

No carnaval fomos para Aruba e eu voltei munida de Amêndoas. E já sonhava com todas as tonalidades que os meus macarons tomariam.

Li, reli, assisti videos no YouTube e anotei passo-a-passo no meu cardeninho de receitas, então, decidi: “vou fazer os Macarons”. Fui ovacionada de pé pela minha platéia, afinal, cozinha pra mim é sinônimo de reunião familiar.

Ok. Primeiro passo: Descascar as amêndoas.

Minha vó me instruiu, com sua sabedoria, a simplesmente colocar em água quente pois “elas soltam todinha”.

Duvidei!

“Googlei”: Como descascar amêndoas? E , pasmem, coloque em uma panela com água e deixe atingir a fervura, em seguida simplesmente dê uma apertadinha e as amêndoas saem peladinhas de dentros de suas cascas (algumas inclusive parecem vivas, pois pulam com uma velocidade incrível).

Ponto para vovó.

Amêndoas descascadas, agora tudo seria muito simples. Só precisava triturá-las até que virassem um pó e pronto.

A processadora só faltou soltar fumaça e as amêndoas não viravam pó. Nesses ponto todo mundo já estava opinando.

- Diminui a quantidade

- Bate no liquidificador

- Balança a processadora

Quando achávamos que estava ficando mais fina concluíamos que era uma mistura de vontade com ilusão de ótica.

Já desanimada e botando pouca (ou nenhuma) fé, segui em frente.

Bater as claras em neve. Fácil! Já fiz isso incontáveis vezes e com a minha Kitchen-Aid nenhuma clara é páreo.

Quebrei os ovos e com destreza (modéstia à parte) separei as claras das gemas. Coloquei a gosminha transparente na bacia reluzente da minha batedeira e coloquei a bichinha pra trabalhar.

Quando formou picos suaves, joguei o açúcar. Como indicado!

Ela rodou, rodou... e nada de picos firmes.

Os minutos iam passando, a batedeira ficando tonta e as claras formavam picos moderados.

Mais uma vez, me curvei e disse: “vamos em frente”.

Coloquei o corante e, pela primeira vez, atingi algo que desejava. Ficou no tom perfeito de rosa!

Misturei o errado com o mais errado ainda e a massa começou a ficar com uma consistência pastosa estusiasmante.

Peguei meu saco de confeitar, coloquei um bico redondo e comecei a dispor pequenos circulos, de tamanhos variados, sobre o papel manteiga.

Nesse ponto, a receita dizia para deixar os macarons descansando por cerca de 30 minutos ou até que criassem uma casquinha em sua superfície e deixassem de ser grudentos.

30 minutos depois e eles continuavam iguais. 50 minutos depois - nada. Uma hora depois - same o’same.





Culpei a umidade, os Deuses, a posição da terra em relação ao sol, a fase da lua.

Saí de casa e deixei-os descansando. Talvez estivessem cansados de tanto bater na batedeira e carregar amêndoas tão pesadas.

Cheguei em casa depois de três horas da última visita aos Macarons e, enfim, eles haviam criado a tal casquinha. Dei uma cutucadinha e meu dedo saiu limpinho.

Pro forno, então!

Meu fogão é um DAKO humilde de quatro bocas e sua temperatura mínima é 180˚C.

Os círculos no tom perfeito de rosa tomaram rapidamente a coloração mais escura nas bordas que indicavam o seu ponto, e eu, mais que depressa, tirei-os do forno.

Esperei ansiosamente o momento de tirá-los do papel para recheá-los com doce de leite.

Quando tentei segurar o primeiro ele havia grudado no papel, e assim suscessivamente até o último.

Eu e minha mãe conseguimos desgrudá-los com muita paciência e trabalho em equipe.

Os que eu conseguia tirar sem papel ganhavam uma salva de palmas, os que ficavam tipo bala de caixa de escola, com o papel grudado, nós raspávamos com a faca.

Sem perder minha compostura, passei doce de leite e fui casando os círculos que tinham (mais ou menos) o mesmo tamanho.

Mamãe provou e urrou de prazer. Vibrava que estavam uma delícia.

Eu mastigava como se estivesse comendo capim. Com uma melancolia arrasadora frente àqueles macarons falidos.

Coloquei os macarons devidamente montados dentro de uma caixinha transparente, adornei com um lacinho e mandei para o meu irmão e cunhada como um presente de “casa nova”.



Guardei poucas provas do crime que eu havia cometido contra a patisserie, pois queria que a Beta provasse.

No outro dia, após a primeira experiência gustativa, minha amiga disse que estavam deliciosos e que, mesmo errados, ela tinha adorado. E seguiu comendo até não sobrar nem farelo.

Demorei a acreditar. Pensei que estavam apenas tentando me animar.

Até que minha mãe inrompeu pela porta da minha casa e, sem nem dizer bom dia, perguntou ávida: “Cadê os Macarons?”.

Enquanto eu praguejava e dizia que aquilo era uma vergonha para os macarons as duas retrucavam e defendiam o pobre docinho cor de rosa.

Até que levantaram a bandeira de que não eram Macarons e sim Makarimes e as instruções eram claras:

- não pode triturar as amêndoas até virarem pó

- as claras devem ser batidas até atingir picos moderados

- eles devem descansar por, no mínimo, 3 horas

- o forno deve estar aquecido a 180˚C e nem um grau a menos

- você saberá o ponto se eles estiverem firmemente grudados no papel manteiga

Obs: Para desgrudar o papel utilize a técnica de raspagem com uma faca assegurando, assim, a "perfeição” dos doces.

Que Macarons, que nada... a onda agora são os MaKarimes. E tenho dito! =P


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